Deus não anda à procura de música

Antes de dormir, sempre tenho o hábito de ouvir algum CD para me atualizar quanto a repertório, e até mesmo saber o que anda rolando no mercado fonográfico em geral. Nunca é 100% a escolha num primeiro instante. Vejo um ali, outro aqui. Até me decidi o sono já chegou e por vezes me vejo dormindo ao lado de uma pilha de CDs e amontoados por cima de mim. Não que não encontre algo que me satisfaça, até porque meus ouvidos já estão prontos para ouvir bons ou maus CDs. Mas é que muitas vezes na minha procura, me deparo com músicas pobres no conteúdo, ou por vezes, músicas sempre retratando os mesmos temas.
Parece que todas as músicas norteiam as mesmas idéias. Uma ou outra traduz poesia, poemas, música aliada a um contexto. É complicado, sentar e escolher, já que na grande maioria são xerox dos textos bíblicos ou até mesmo, cópias insistentes de frases repetidas.
Não quero aqui causar constrangimentos aos compositores, até porque sou compositor e necessito da inspiração divina. O que mais me preocupa é como aqueles que não são crentes, recebem o nosso repertório musical.
A bíblia por vezes fala sobre a contextualização, na qual Jesus usando parábolas (uma forma de contexto), falava na linguagem que o povo entendia. Quando também por vezes, os discípulos não entendiam e Jesus com toda paciência os explicava por detalhes.
Nossas canções precisam ser traduzidas no contexto dos que não conhecem as nomenclaturas, os nossos símbolos exegéticos. Falar do amor de Jesus na linguagem do povo não é pecado, é contextualização.
Muitos metem o cacete nas bandas de rock gospel, mas esquecem que eles exercem grande influência nos jovens e adolescentes, porque eles falam na linguagem deles. As crianças, por sua vez, necessitam de canções, tanto musicalmente falando, como no contexto que as façam ser identificadas.
Todos sabemos que o louvor é somente a Deus. Mas o Senhor também nos deu a música, o som, para canal de evangelismo. Esquecemos que existem milhões de brasileiros que possuem divergências culturais que para ele muitas vezes é difícil entender “o Leão da Tribo de Judá”. Não quero aqui dizer que não possam existir músicas assim, mas o que tem acontecido é uma enxurrada de composições sem letra e sem conteúdo, repetindo as mesmas coisas e numa linguagem errada.
Deus nos deu a capacidade de criar. Somos todos poetas e temos a fonte lá do alto. Não necessitamos repetir textos e contextos. Até nos estilos somos pioneiros. O Rock e o Reggae surgiram a partir de movimentos gospel. Somos abençoados demais e precisamos retratar melhor nossas canções.
Uma certa feita, cantando minhas canções para uma garota espírita, ela achou interessante que eu falava de Jesus, mas de um jeito diferente. Sem muita repetição, quanto ao nome “JESUS”. As minhas canções já estavam esgotadas do nome, ela nem percebia. Procurei retratar JESUS mais perto, atingível de todos. Não um Jesus carrasco, que só dá vitória, mas que não nos transforma na derrota. Tratei Jesus de um modo que as pessoas não o tornasse este nome, tão poderoso, enxovalhado. Não dei aos cães, as pérolas do Reino de Deus. Até porque hoje todos têm a possibilidade de ouvir nossas canções. E será que todos as aprovam e ou pelo menos, entende?
Temos que aproveitar nossas capacidades de criação, não para tornar as canções ambíguas, falando às escondidas do evangelho de Jesus. Mas com sabedoria, temos que impregnar “JESUS” nos corações sem causar enjôos, náuseas e até mesmo, antipatia nos que ouvem.
Claro, que será impossível agradar a todos. Não quero aqui dizer categoricamente que tem que ser assim. Muitos não ouvirão e terão prazer em maldizer nossas canções, mas a estes cabem as misericórdias de Deus. O maior autor e único engrandecido aqui, é o nosso Senhor Jesus. A Ele todo o som e voz. Porém as pessoas também são receptoras das canções e precisamos usar a música como ferramenta, não como obra final. Devem ser excelentes as músicas, as letras, os arranjos, a instrumentalidade, devem ser agentes de aproximação das vidas em nome de Jesus e convidar a uma relação íntima com Deus.
O Senhor Deus não anda a procura de música que toque o coração dEle. Até porque a adoração a Deus não se limita ao contexto musical. Deus anda a procura de verdadeiros adoradores e que adorem em espírito. Como eu utilizo uma frase no meu dia-a-dia, como aquela frase martela no meu íntimo e me fez mudar meu modo de ver a vida, como nós compositores vivemos o que escrevemos, é o que realmente agrada o coração de Deus. Mas nada melhor do que fazermos música de modo agradável a Deus, sem nos esquecer de traduzir ao pecador, com clareza de entendimento, o grande amor de Jesus.