A Música na Bíblia

"Cantai-lhe um cântico novo; tocai bem e com júbilo". (Salmos 33:3)
Ao longo de toda trajetória bíblica narrada por grandes homens de fé e coragem, percebemos que a música sempre esteve presente, quer seja nos momentos difíceis ou mesmo nas horas de regozijo. A música aparece como instrumento de louvor a Deus, uma forma de expressão, uma força dinâmica de poder, energia e vitalidade, capaz de exercer grandes influências não só nos homens como também nos animais e plantas.
I. A Música é eterna
"Contudo tu és santo, entronizado sobre os louvores de Israel". (Salmos 22:3)
"O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; têm bom entendimento todos os que cumprem os seus preceitos; o seu louvor subsiste para sempre". (Salmos 111:10)
As manifestações da música existem desde o principio e permanecerá para sempre, pois o nosso Deus será eternamente louvado.
II. A Música no Velho Testamento
"E cantavam a revezes, louvando ao Senhor e dando-lhe graças com estas palavras: Porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre sobre Israel. E todo o povo levantou grande brado, quando louvaram ao Senhor, por se terem lançado os alicerces da casa do Senhor". (Esdras 3:11)
A Bíblia nos informa que a música sempre fez parte do cotidiano vivido na nação judaica, como sua melhor forma de expressão. O povo demonstrava uma inclinação para as artes plásticas, esculturas e pinturas. Como era proibido representar Deus através de imagens, concentraram toda a sua força inspiradora na poesia e na música.

A) Primeira Citação Bíblica

A primeira citação da música na Bíblia surgiu com Jubal, filho de Lameque, que foi "o pai de todos os que tocam harpa e flauta" (Gn. 4:21). Segundo a tradição Judaica é considerado o "inventor da música". Há uma relação muito grande entre as artes de pastoril e musical, encontra-se no fato de Jubal ter um irmão mais velho, Jabal, que foi "o pai dos que habitam em tendas e possuem gado"(Gn. 4:20). Daí a razão de Davi envolver-se musicalmente durante a atividade pastoril.

B) Pós-Dilúvio
Depois do dilúvio temos registros sobre musica feitos por Labão quando repreendeu a Jacó por haver-se retirado furtivamente sem lhe permitir a alegria de despedi-lo com "cânticos, e com tamboril e com harpa" (Gn. 31:27).

C) Cânticos de Triunfo
Freqüentemente, a música era empregada em ocasiões de regozijo, quando era regularmente associada a danças. Havia cânticos de triunfo depois de alguma vitória em batalha (Jz. 5). Para exemplificar, Miriã e algumas mulheres celebraram com tamborins e com danças a queda de faraó e de seus cavaleiros (Ex 15:20-21), assim como Josafá retornou vitorioso a Jerusalém "com alaúdes, harpas e trombetas" (II Cr. 20:28).

D) Música em Festivais
Cânticos, música e dança eram comuns nas festas (Is 5:12; Am. 6:5). Em particular eram características dos festivais que acompanhavam a vindima (Is 16:10) e as celebrações de casamentos.

E) Música para todos
Os reis possuíam seus cantores e seus instrumentistas (II Sm. 19:35; Ec 2:8). O menino pastor também tinha sua lira (I Sm. 16:18). Os jovens, nos portões das cidades, também apreciavam a própria música (Lm. 5:14). Até mesmo as prostitutas aumentavam seus poderes de sedução com cânticos (Is 23:16).

F) Música Fúnebre
Assim como a música foi empregada em ocasiões de alegria, também se destacou pelas produções fúnebres. O hino fúnebre que constitui o Livro de Lamentações, e o lamento de Davi por causa de Saul e Jônatas (II Sm. 1:18-27) são exemplos notáveis. Tornou-se costume alugar mulheres que, por profissão, acompanhavam os funerais chorando pelo morto. Eram chamadas carpideiras. Essas regularmente incluíam flautistas (Mt. 9:23). Relata-se que o marido mais pobre tinha por obrigação prover pelo menos dois flautistas e uma carpideira por ocasião do funeral de sua esposa.

G) Música no Templo
Num estágio posterior, a música foi consagrada ao serviço da adoração no Templo. Em I Cr. 15:16-24 tem-se o comentário detalhado sobre a organização do coro e da orquestra de levitas por Davi. A música foi instituída no culto por Deus, no reinado de Davi (II Cr. 29:25). Sendo Davi rei, músico, poeta e conhecedor do valor da música na vida do povo e da religião, passou a desenvolvê-la em termos de Ministério, através do desempenho de quatro mil músicos com os seguintes critérios e funções:

Critérios
1. Escolha (I Cr. 16:4-5) - Os quatro mil não foram alistados por vontade própria, mas por vontade de Deus.
2. Purificação (Nm. 8:6) - Escolhidos da tribo de Levi, por exigência do próprio Deus, eram purificados para exercerem as funções determinadas no seu mister.
Funções
3. Louvar (II Cr. 8:14; I Cr. 16:4-5) - Eram instruídos somente para o louvor ao nosso Deus.
4. Profetizar (I Cr. 25:1-3) - Havendo o derramar do poder de Deus no Santo dos Santos estes começavam a profetizar com harpas, alaúdes e címbalos. Ministravam o que estava no coração de Deus para os homens. Transmitiam a palavra revelada como regra de fé e prática de vida.
5. Ensinar (I Cr. 15:22 e 25:5-7) - O preparo e a eficiência foram as grandes características do ministério da velha dispensação. Nele havia mestres como Asafe, Jedutum e muitos outros que, além de Davi, compuseram cânticos que não só edificaram o povo de Israel no passado, mas que até hoje edificam o povo de Deus.
6. Santificar (II Cr. 29:5) - Na dispensação da lei, os músicos eram ordenados a se santificarem. Na dispensação da graça, os crente são eleitos para receber a marca da santificação que se expressa pelo testemunho de vida e pelo louvor. Deve existir interdependência entre o que se vive e se canta.

Destaca-se o ensino da música e o desenvolvimento do canto. Davi juntamente com Quenanias e mais duzentos e oitenta e oito mestres criaram formas e desenvolveram técnicas de canto que até hoje são usadas em todo mundo. Eis alguns exemplos:

(Ne. 12:8) Regência de canto coletivo congregacional;
(Ne. 12:42) Regência dos cantores ou coral;
(I Cr. 15:21) Uso de instrumentos adaptados ao acompanhamento do canto.

Pela necessidade de tempo para a boa formação e bom desempenho do músico, o trabalho era permanente e de dedicação exclusiva (I Cr. 9:33 e 6:32). A manutenção dos músicos se dava através dos dízimos e ofertas, porque o ministério fazia parte do sacerdócio, sob a responsabilidade do rei (Ne 12:46-47; 10:37-39; 13:10-14).
III. A Música no Novo Testamento
"A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações" (Colossenses 3:16).

Após quatrocentos anos de silêncio, a música retorna mais impetuosa do que nunca. Os fiéis passam a cantar e tocar um novo som, uma nova canção, onde o livre acesso ao soberano Deus põe um novo cântico na nossa boca. O cântico da graça e do amor, brota nos corações dos escolhidos como prenunciação das novas de salvação. Agora o cristianismo passa a ser chamado de "a Religião que Canta".

A) Cristo e a música
A música continuou com as mesmas funções estabelecidas por Deus no Velho Testamento, a serviço da religião. Jesus participava dos cultos e das festas solenes no templo, sem em nenhum momento, reprimir os cânticos entoados. Os discípulos e a multidão o louvaram com cânticos por ocasião da sua entrada triunfal em Jerusalém (Lc. 19:37). Provavelmente, Jesus cantou muitas vezes em sua vida. Porém, a Bíblia comenta a referencia especial ao momento da Ceia com os apóstolos, quando Cristo incluiu música, consagrando-a ao serviço do culto cristão (Mt. 26:30). A partir daquele momento, o Ministério da Música passou a ser uma prática estabelecida como meio de expressão de fé e manifestação da graça divina através de Cristo.

B) Doutrina dos Apóstolos e a Música
Expressão de fé, dom da graça divina e liberdade do evangelho, em Jesus, a Música passa a pertencer ao "Sacerdócio Real" (I Pd. 2:9) ou ao "Reino e Sacerdotes de Deus" (Ap. 1:6). Ela se apresenta com uma estrutura nova e específica, mas como um resultado ou aplicação do que ela foi no Velho Testamento. O apóstolo Paulo, acadêmico, doutor da lei, também sabia música, era conhecedor do Ministério criado por Davi. Portanto, orientou as Igrejas a tomarem como princípio os conhecimentos do Velho Testamento.

"Cantai a Deus, cantai louvores ao seu nome; louvai aquele que cavalga sobre as nuvens, pois o seu nome é Já; exultai diante dele". (Salmos 68:4)

Em toda a história do povo de Israel até os tempos da dispensação da graça, a música liga-se à religião, no uso apropriado de suas funções a serviço de Deus, através do seu povo. A Igreja, muitas vezes, tem negligenciado o Ministério de Música. Desconhecer a música, e o que a Bíblia tem para ensinar tem sido a causa principal da lamentável situação em que a Igreja se encontra hoje. Que a prática da fé seja expressa através de cânticos na sua vida... Que Deus esteja a nos ajudar...